Um cálice de Porto

Ilustração de Edmund J. Sullivan para o Rubáiyát de Omar Khayyám.
Ilustração de Edmund J. Sullivan para o Rubáiyát de Omar Khayyám

É esta a pipa e prefiro que sejas tu a encher os cálices. Assim. O vinho sobe na fina mangueira sorvido pela tua boca: o horror ao vácuo. Lei da física, a lei do amor. Pouca, a luz da loja começa a juntar-se à dócil turbulência e leva as sombras para o tecto onde ficam suspensas como seda. Ouves o sol da vinha velha ressoar nas palavras, o pai e a mãe, há tantos anos, aqui ao pé de nós? O vinho é uma ausência de pássaros incógnitos que, um a um, começam a pousar-te no cabelo.

in O homem que fugiu com o rio às costas (livro de poemas inédito)

António Cabral para Eito Fora por Pedro Colaço Rosário (2001)

António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.

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