Descrição
Desde algum tempo que António Cabral – poeta, ficcionista e ensaísta transmontano – tem vindo a dedicar-se ao estudo dos jogos populares. No último lustro iniciou a publicação em volume das suas investigações com Jogos Populares Portugueses a que se seguiu Os Jogos Populares – [Onze] Anos de História: 1977-1988, em 1988, e Teoria do Jogo, no ano passado. Acaba de desdobrar o livro de 1986 em dois novos tomos, Jogos Populares Portugueses de Jovens e Adultos e Jogos Populares Infantis, ambos editados pela Editorial Domingos Barreira, do Porto, na sua prestigiosa coleção “Coisas Nossas”.
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Logo no capítulo inicial, o investigador António Cabral chama a atenção aos técnicos desportivos e da educação física “para que não limitem o jogo a algumas das suas expressões, por mais importantes que elas sejam também”, asseverando que “o jogo é um todo, mais complexo do que à primeira vista parece, e pelo menos os elementos psicológicos e antropológicos, aos quais também não deve ser reduzido, precisam de estar sempre no pensamento dos técnicos e estudiosos”.
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O segundo capítulo da obra é consagrado àquele que decerto será o mais conhecido dos jogos populares – a “malha”. E a “malha” é-nos apresentada nas suas variantes de norte a sul de Portugal. Ora isto, segundo António Cabral, se por um lado revela “uma grande riqueza cultural”, por outro “dificulta os torneios entre equipas de várias zonas”. Previne o leitor, no entanto, contra a tentativa de uniformização, por “desculturante”. E as diferenças são tão marcantes que a malha adquire diversas designações.
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A terceira e última parte ou capítulo desta importante obra de cultura fala-nos dos jogos em geral, organizando-os, uma vez mais por regiões. Abre com o Nordeste. Não vamos inventariá-los, mas, para aguçar o apetite dos leitores, vamos destacar uns quantos jogos. Numa zona de tanto minério, não poderia deixar de haver certame que metesse, por exemplo, o ferro, sabe-se lá se o de Moncorvo: o “ferro bacelar”, por exemplo. Mas a corrida de cântaro à cabeça ou burricada? Bem, e o jogo das panelinhas que se atiram entre os jogadores até ir ao chão em cacos? E o dizer dos versos “Oh botão, / botão de flor, / das minhas mãos / pràs mãos do meu amor”, enquanto as mãos juntas de um jogador, que aí esconde uma prenda, são colocadas entre as mãos dos demais, num deles deixando o que é para deixar? Ou, mais violento, a raiola que os de Freixo de Espada à Cinta tão bem sabem jogar.
O mais espectacular dos jogos será decerto o “pau ensebado”. Pois imaginem um alto pau de sete metros de alto com sebo a untá-lo e lá no topo um garrafão ou um bacalhau, a sedutora peça que obrigue uns quantos mais afoitos a subirem, escorregando quanto os obrigam o sebo. O truque está em ter a ronha de deixar os parvos na limpeza do pau com as primeiras tentativas e depois atingir-se o que se quiser!
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Com mais este livro, António Cabral está a completar uma obra de extraordinário interesse pedagógico e de cultura popular. 1
- MOUTINHO, Viale – Jogos populares para todas as idades. Diário de Notícias. Porto. Ano 127.º, n.º 44 753 (03-10-1991), pag. 52 ↩
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