Jogos populares infantis

“O autor tem dedicado ao tema obras de importância capital. Ele é o mais importante dos raros estudiosos portugueses neste sector da antropologia social. A esta editorial a importância de ter reunido na colecção “Coisas Nossas” livros tão marcantes como Jogos Populares Portugueses de Jovens e Adultos, Teoria do Jogo e, agora, este terceiro tomo.” (Viale Moutinho)

 

REF: 9724609251 Categorias: , , Etiquetas: , , ,
 

Descrição

Embora directamente – pois nem se quer o conhecemos pessoalmente – o autor nada tivesse feito por nós, indirectamente fez algo de muito importante: ajudou-nos a regressar à criança que fomos, quando jogávamos à Macaca, à Bilharda, ao Berlinde, ao Pião e ao Agarra-Agarra, pela simples leitura do seu interessante livro.

Estou em crer que, conforme Jesus Cristo fez o favor de lembrar, “se não nos tornarmos como as crianças não entraremos no Reino dos Céus”, por isso – pedindo licença e fazendo vénia a alguns esoteristas – teremos que considerar Jogos Populares Infantis como um livro iniciático.

Explicamos:

No Mundo de hoje as crianças de ontem em lugar de jogarem ao Rapa, ao Carolo, ao Assalto ao Castelo e à Estátua entregam-se a jogos muito mais perigosos a que podemos chamar de Senhor Ministro, Economista, Deputado, Administrador de Empresas e outras brincadeiras que levam a sério. Tão a sério ao ponto de, na maior parte das vezes, não olharem a meios para atingir fins, atirando o próximo para a valeta da vida num “arreda! arreda!” implacável, nem sequer sonhando que aquilo que fazem aos outros estão, simplesmente e apenas, fazendo a si próprios.

Isto porque todos somos, enquanto vivos, ondas do mesmo mar.

O António Cabral já pensou como seria interessante e saudável, para eles e para nós, se o senhor Ministro X, depois de ler o seu livro, em lugar de redigir um decreto-lei que nos irá seringar a paciência, resolvesse afastar a secretária e as cadeiras do gabinete para, com os colaboradores mais próximos, jogar às Escondidas?

Parece estarmos a vê-lo, com os olhos tapados pela primeira série do “Diário da República”, enquanto os colaboradores se escondiam, dizendo a inevitável lengalenga: “Serapico, pico, pico / quem te deu tamanho bico / foi a filha do juiz / que está presa pelo nariz / os cavalos a correr / e as meninas a aprender / qual será a mais bonita / que se irá esconder?”.

Se ele conseguisse voltar a brincar a esse jogo, atirando para trás das costas o chavão do “parece mal”, do “um homem não chora”, ou do “mesmo quando faz xi-xi nas calças, quando chega a casa diz à mulher que é suor”, ficaria iluminado de imediato.

O mesmo poderia suceder a um desses Executivos chatos, sempre com a pasta James Bond carregada de estatísticas e de “stress”, dominados pelo primitivo vício de se mostrarem profissionalmente agressivos, julgando só assim conseguirem ganhar a vida quando, afinal, a perdem. Caso um grupo deles se reunisse em pleno Rossio e começassem a jogar ao Jardim Celeste, mesmo sem vestirem bibes, alcançariam, no momento, a paz interior do (sic) sábios.

Como seria interessante uma fila desses alicerces da sociedade de consumo a avançar, aos saltinhos, para o obelisco do D. Pedro, cantando embevecidamente: “Eu fui ao jardim celeste / giroflé, giroflá / Eu fui ao jardim celeste / giroflé, giroflá”.

E a outra fila responderia: “O que foste lá fazer? / giroflé, giroflá / O que foste lá fazer? / giroflé, giroflá?”.

Antes que os primeiros explicassem terem ido lá buscar uma rosa o Mundo estaria transformado para melhor.

Por tudo isto tenho de agradecer ao António Cabral a publicação do seu livro e quanto ao adequado emprego da obra, aí deixe-me ficar com legítimas dúvidas.

Talvez isso venha a acontecer um dia… 1

O autor tem dedicado ao tema obras de importância capital. Ele é o mais importante dos raros estudiosos portugueses neste sector da antropologia social. A esta editorial a importância de ter reunido na colecção “Coisas Nossas” livros tão marcantes como Jogos Populares Portugueses de Jovens e Adultos, Teoria do Jogo e, agora, este terceiro tomo. Para além do inventário dos jogos, há o próprio estudo teórico da actividade lúdica aqui compreendida. Um índice remissivo dos jogos infantis recolhidos por António Cabral, em muitos casos, recupera do esquecimento alguns deles. E vale a pena colhermos algumas designações curiosas: alhas-alhas, apitos e gaitas, arranca-cebola, bacalhau, barra da bandeira, testa quadrada, bom barqueiro, caça às cegonhas, carvalhinha seca, cegos e paralíticos, coelhinha que procura a toca, dona-sancha, eixo do era uma vez um homem, fulaninho que me matam, garrafa de lixívia, joão-grosso, macaquinho do chinês, ordens na tropa, prego no caracol, rabo de burro, rompe o touro, senhor mestre sapaterio (sic), três paulitos, trincopeido, richo, entre outros.

“Até à idade escolar”, escreve António Cabral, “o jogo é, de facto, a mais séria, isto é, a mais exaustiva ocupação da criança, o que não quer dizer, só por si, que o jogo seja entendido a sério, embora, como veremos, ou seja, efectivamente.” E, a propósito de chamar aos jogos infantis jogos populares, Cabral justifica-o “pela simples razão da sua simbologia se liga, na esmagadora maioria dos casos, aos costumes do povo, mormente do povo rural. E ainda porque as crianças, seja qual for a classe social dos seus pais, os jogam indistintamente. Quando o não fazem, temos sempre se suspeitar de uma anormalidade ou de uma intervenção paterna, por vezes subtil”.

Neste seu novo livro, António Cabral estuda o “eu” e o “outro” no jogo infantil, a função dos jogos populares no ensino, os parques infantis e as ludotecas, seguindo-se, então, os jogos populares propriamente ditos, com as suas regras fundamentais.

Este Jogos Populares Infantis constitui um obra importante para professores, pais, educadores, nomeadamente os responsáveis por escolas, jardim-escolas e ludotecas. Trata-se de um instrumento de trabalho de extrema utilidade. Indispensável. 2

  1. MEDANHA, Victor – Muito obrigado António Cabral. Correio da Manhã. Lisboa. Ano XIII, n.º 4548 (10-10-1991), pag. 26
  2. MOUTINHO, Viale – Entre os jogos e as origens árabes. Diário de Notícias. Lisboa. Ano 127º, N.º 44802 (21-11-1991), pag. 53

Informação adicional

Colecção

Descrição física

Data de publicação

Editora

Local de publicação

Edição

ISNB

Avaliações

Ainda não existem avaliações.

Apenas clientes com sessão iniciada que compraram este produto podem deixar opinião.