O lavrador percorrendo a vinha

Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral, livro de poesia sobre o Douro natal de António Cabral
Ilustração de Nuno Barreto para Poemas Durienses de António Cabral

Ei-lo no meio da vinha, atento,
como se ouvisse o próprio coração.
Uma vide que toca é um músculo vibrando;
um cacho que descobre é um pensamento novo.

A terra ondula nos seus passos
e fez dele um arbusto sonhador.
Quando os seus olhos pousam num rebento
duas gotas de orvalho se iluminam.

Que ventos germinam além da montanha?
Que nuvens negras ou trovões?
Ele não sabe. Tem tempo de saber.
Esta manhã de Abril é boa, clara.

Alegremente o sol arde no rio:
amam-se as rolas no pinhal.
Ele percorre a vinha e colhe
um louro cacho de esperanças.

António Cabral para Eito Fora por Pedro Colaço Rosário (2001)

António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.

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