Ia para o campo sempre com alguma coisa na mão, uma cesta, uma cordinha para atar qualquer coisa de trazer à cabeça, quando não uma alvorada, uma daquelas que eu já tinha visto à entrada de sua casa e a todo o momento o vidro ameaçava partir.
As manhãs de Julho são mais quentes e a luz já não aparece franjada de gotas de orvalho que facilmente se transformariam num bando de pássaros, como eu desejaria.
Chama-se Leonor como a que ia descalça para a fonte do poeta — um nome vulgar, se o escrevermos simplesmente e não nos apercebermos de que os nomes se misturam com as coisas, sendo às vezes impossível estabelecer a diferença.
— Bom dia.
— Bom dia, Leonor.
Dito assim, o nome cobria-se de vogais. Era um regalo — ainda hoje, — vê-lo subir às árvores, quando ela aparecia na esquina. Está mais velha, comida aqui e ali pelo tempo, mas a sensação de a ver mantém-se inalterável, bem sabendo eu que à entrada de sua casa as alvoradas se foram partindo sucessivamente.
As manhãs de Julho continuam quentes e o feno cresce nas vinhas, Leonor.
António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.