Da fraga jorra a água,
Eu sou a fraga,
A chorar de mágoa.
Sou a vinha,
Prenhe de vida
Na vindima.
A derramar folhas
Como flores de todas as cores,
No outono.
Sou a cepa velhinha, retorcida,
A contar histórias de vidas,
Perdidas no esquecimento.
Sou o socalco rasgado
Com suor e sofrimento,
Degrau da escadaria
Que me há-de levar ao céu.
Sou o bago da oliveira, martirizado,
A desfazer-se em néctar dourado.
Sou o rio,
Galguei montes,
A correr, a saltar,
Atirei-me a abismos,
Desfeito em espuma,
Atravessei vales, devagar,
Já vejo o mar.
Estou tão cansado!
Ó onda, vem-me buscar.
Poema escrito por Leonor Miranda que o declamou em Aula Aberta orientada por Paula Fortuna, professora do ensino secundário na Escola Secundária Camilo Castelo Branco e da Universidade Sénior de Vila Real onde lecciona a disciplina de Literatura, que apresentou Poemas Durienses do poeta António Cabral em 22 de Janeiro de 2018.
Leonor Miranda considera que o sujeito poético do seu belo poema é António Cabral a quem ela o oferece.