Do comboio a paisagem oposta vê-se mais
e levanta problemas, por isso é bom
que no túnel da Valeira os olhos
fechem para contas. Tão loquaz seria
o alcantil a falar de naufrágios e gente
na miséria, peixes que vêm à tona
por dá-cá-aquela-palha! Lucidamente in-
conveniente, senhor próximo ex-Primeiro
Ministro.
A paisagem, seja ela qual for, apenas
se deve contemplar até certo ponto,
ao contrário do que pensa um fala-barato
da televisão. A produtividade está
no caminho certo. A G.N.R. também está
muito bem onde está e vai aprender
umas coisas com a história da Mesopotâmia.
Andamos a precisar de heróis, desde
a guerra colonial, sobretudo
desde que o vinho do porto começou
a dar pra torto.
É urgente o amor, ou antes, é urgente
educar as falas diamantinas e reduzir,
pouco a pouco, a circulação ferroviária.
As estrelas ainda não caíram.
António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.