O Prometeu agrilhoado hoje

António Cabral conseguiu urdir e rematar um belo, denso e complexo conto, com vários e heterogéneos expedientes novelísticos, de que aqui apresento uma brevíssima e certamente mal-amanhada súmula. E longe levaria o comentário, por mais sintético, das demais excelentes oito peças que compõem este livro – um livro que nos revela um contista de eleição, como de eleição é o poeta que leio e admiro de há muitos anos. (Cláudio Lima)

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Descrição

António Cabral conseguiu urdir e rematar um belo, denso e complexo conto, com vários e heterogéneos expedientes novelísticos, de que aqui apresento uma brevíssima e certamente mal-amanhada súmula. E longe levaria o comentário, por mais sintético, das demais excelentes oito peças que compõem este livro – um livro que nos revela um contista de eleição, como de eleição é o poeta que leio e admiro de há muitos anos.

De há muito que admiro António Cabral, o poeta e o etnólogo. O seu livro Os Homens Cantam a Nordeste (1967) foi um dos que mais me impressionaram e despertaram uma consciência social, no fervilhar generoso dos vinte e poucos anos e no clima irrespirável nos estertores do consulado salazarista.
Nunca, porém, me tinha aproximado da sua ficção, também ela vária e certamente valiosa. Daí que abordasse este Prometeu Agrilhoado Hoje sem preconceitos, subjectivas comparações, inferências. Li-o em estado puro ou, na expressão aristotélica, em tábua rasa de conhecimento e experimentação. E essa inocência, se pode limitar o âmbito e a excelência da análise, confere-lhe, por outro lado um cunho de autenticidade e um grau de pureza capazes de superar eventuais óticas panorâmicas, linhas evo/involutivas, assinaláveis no exercício comparativo de uma obra conjunta.
Prometeu Agrilhoado Hoje remete-nos, como facilmente se depreende, para a tragédia de Ésquilo, uma das mais densas e paradigmáticas peças do teatro clássico grego. António Cabral transfere-a para o seu Douro vinhateiro e para o nosso século XVII, com Portugal sob o domínio filipino. Uma operação arrojada, a exigir bons domínios de escrita e boa bagagem de cultura clássica, história portuguesa seiscentista, topografia, tipologia e etnografia durienses. A todos estes itens, e a muitos outros associados, responde o Autor com propriedade e esmerada prosa.
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António Cabral conseguiu urdir e rematar um belo, denso e complexo conto, com vários e heterogéneos expedientes novelísticos, de que aqui apresento uma brevíssima e certamente mal-amanhada súmula. E longe levaria o comentário, por mais sintético, das demais excelentes oito peças que compõem este livro – um livro que nos revela um contista de eleição, como de eleição é o poeta que leio e admiro de há muitos anos. 1

  1. LIMA, Cláudio – Tópicos atípicos. Entre letras. Tomar. ISSN 1645-1880. N.º 9 (2006), pp. 49-50

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