Corrida de cântaros em Alijó (do espólio do autor)
Corrida de cântaros em Alijó (do espólio do autor)

Ainda me lembro de um rapaz e de uma rapariga que, na minha aldeia, corriam ao desafio, cada qual com o seu caneco de almude cheio de vinho mosto à cabeça. Toda a vinificação se fazia praticamente na aldeia e, como nem todos os lavradores tinham lagares, junto das suas pipas, eram obrigados a pedi-los de empréstimo, trazendo depois o mosto em dornas e outras vasilhas. Uma destas era (e ainda é) o caneco de almude, feito de lata e com base protectora de madeira. Pois aquele rapaz e aquela rapariga, obedecendo mais ao impulso lúdico (talvez a um impulso afectivo também) do que aos avisos da prudência, puseram-se a correr, desatentos a pedras e tropeções. Até que um deles caiu na rua, entornando o precioso líquido. O trabalho e o jogo contracenavam. As corridas de cântaros de barro têm origem semelhante, na ida e vinda da fonte.

  1. Só podem usar-se canecos de almude, cada um com uma quantidade igual de água.
  2. Os concorrentes devem ter uma rodilha de pano na cabeça, não podendo segurar o caneco com a mão, em circunstância alguma, pois, se isso acontecer, ficam desclassificados.
  3. Triunfa, naturalmente, o primeiro que chegar à meta, correctamente.
António Cabral para Eito Fora por Pedro Colaço Rosário (2001)

António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.

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