Descrição
Trata-se da décima segunda recolha poética do autor de Poemas Durienses, e, se nela se reconhecem a pessoal língua poética de António Cabral, a sua transparente arquitectura de volumes e ritmos, a sua funda e carnal raiz no lugar e na circunstância, interrompida por súbitas “fugas” e suspensões ou pelo breve fulgor de fanopeias ou “haiku” (“Entre dois pinheiros / no fio múltiplo de seu voo / o gaio antepõe uma clave de sol evasivo”), são ainda particularmente significativas do inquieto labor poético do autor as experiências no domínio da poesia caligramática e visual, bem como daquilo que se convencionou chamar “prosa poética”, processo que, em António Cabral, parece sobretudo traduzir, mais do que um “modo” (ou “género”) poético, a experiência dos limites rítmicos e prosódicos do verso.1
António Cabral continua a ser o poeta que em 1951, aos 20 anos, se estreou com Sonhos do Meu Anjo, publicando mais dez títulos até Novos Poemas Durienses, de 93. E continua a ter uma voz própria, em que nos melhores poemas – para lá dos que têm outras referências, vivenciais e também geográficas, de Silves a Salamanca ou Santiago, de Paris ou Londres a Bagdad – há marcas do lugar e das raízes. Veja-se o segundo poema de “Sob os Álamos”: “Como se a luz, ao despedir-se do corpo, / precisasse de ser ouvida. // As palhas da noite eram mornas em Setembro. / Agora o tempo esconde-se atrás do / outro. Em que nuvem se moverá / o ramo desta sombra? // Vou-me desabituando de ler / os vestígios ainda azuis do alpendre / onde te acrescentaste à solidão.” 2
Avaliações
Ainda não existem avaliações.